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Paulo na Sã Encruzilhada - Igor Bueno

Paulo na Sã Encruzilhada - Igor Bueno


Não, Paulo, você não está São!

São outros caminhos que anunciam a sanidade das ruas.

O sol visivelmente nublado pelos arranha céus

Condiz com a calada da noite em plena esquina - como ao meio dia,

E esse monte de gente, esburacadas em suas vias, estradas

Um rolo compressor, cem rolas opressoras, mil rolinhas mortas.

E só queriam voar.

Escuto vozes do além que me substanciam: me vê um pingado com meio limão espremido, que hoje é dia!

Ou de rei ou de réu.

Um doce a mais e não pode dá pala,

Para aguentar sem gratinar as ideias de sustento, carrego Oxalá no miúdo,

Cristo tão exposto quanto na cruz e minha mãe, Maria, de tantos nomes, dignificada por si mesma,

Mas o sobrenome, ironicamente, é de meu pai ausente.

Se eu pudesse me chamaria Maria só para honrosamente evocar minha mãe toda vez que falasse "Prazer, Maria!".

Não desejo entortar meu peito e virar sentença de uma rajada

Que nem ligeira é, só covarde mesmo.

Que coisa sem graça!

Qual a beleza de uma arma?

Qual? Essa associação poderia ser a raiz do antagonismo.

Filosofar sobre isso, gera gastura.

Apertar o gatilho é quase apertar o botão do elevador

A morte chega e a alma sobe à cobertura ou desce ao térreo.

Mas até a cobertura é ruína neste céu.

Por isso...

- Dizimo esse dízimo e não devo nada.

O Brasil brasileiro que me deve.

Sou só a tradução de ideias tortas,

Como Deus e nossas linhas.

Sigo.

Desenho a cada passo azulejos de trabalho, minhas solas gastam, eu solo

De alguma forma danço e sinto que é nesta toada que não perco meus pés.

A terra da garoa desaba, produzida por cada gota de suor evaporada,

Lagos profundos de solidão amontoados rebentam em imenso dilúvio

Combustível para as máquinas de pernilongos e parasitas empresários,

Se embriagarem.


O Funk na rua, o Congo no terreiro, a liberdade na garganta, quase não tão distante

Mas e a fome, o veneno, o arder por água, tão natural quanto bendita, se não fosse vendida?

Fardas que criam cercas, ripam meu cabelo e como farpas trastejam a alvorada

Manchada, marchada, malhada, no breu dos batalhões!


Até que...


Até que quando vagalumes em céu viúvo descem à procura desta terra,

Organicamente raiando luz farta e colorida,


Uma folia em reverência ao amor!


Nos noticiários são: assassinados.


Em mim rebobinaram a continuidade; entranhas ressonantes!

Sempre virão.

Nos somos - multiplamente ser.


Sabemos que vivemos tempos áureos da carnificina

Marcada por falsas auréolas e fronteiras que se dizem divinas

Mas o punho ainda pulsa, se levanta e recria

O que há muito tempo a vida é:


Ancestral continuidade em novas poéticas,

Inspiradas pela Natureza de incontáveis rimas

Testemunhadas numa fé que não é só minha!

Pois somos poetas e poetisas de ideias tortas que esquerdarão o mundo,

Laroyê Exu, Laroyê Pombagira.

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