A Poesia - Igor Bueno
A poesia vem do pó dos ossos antes de serem pó
Ela naufraga nossa sede (é como a gente lê o mar)
Desconjura a maldição
E quando assumimos sua forma,
Se desmembra
É invertebradamente contraditória.
A poesia abre o nós e rompe o nó da solidão
Ela se embala em nossa rede (é como a gente dorme o medo)
Descomplica a solução
E quando veste prosa, até esquece...
Me lembra algo do desconhecido.
A poesia encena a realidade dos sonhos
Ou seriam os sonhos da realidade?
A poesia é ovacionada por quem sofre de saudade,
Passeia livre pelos dedos risonhos
Que gargalham letras e formam palavras
E pelo poder de uma mão
Quase tudo conseguem
Nesta humana complexidade...
Passageira.
A Poesia sabe que não somos para sempre.
A poesia também se entende com as lágrimas
Apetece tudo,
Apodrece mas não morre.
É imortal!
Necessária heresia.
Ela que o divino chama ao mundo
Quando dá aquela paralisia
Em verborragia abjeta
Que precisa da teimosia
Para não ficar vazia
Mesmo com azia da vida
Continua sendo pó e cia
A Poesia sempre tá no cio
Ovula no picadeiro
Penetra na macumba
É puramente sexual
A Poesia é bem gostosa!
Chacoalha
Estribucha
Faz, desfaz, refaz, perfaz,
É o ÁS do baralho
A completude das ASAS
A poesia voa
Afora, adentro, entre - saia - rodada!
Meu dedo se afeta,
Meu quadril é só afeto:
Abaixo a burguesia!
Acima a poesia!
Dentro do chão a rebeldia!
A rima é imã de revolução
E eu sou revolto por natureza
Mesmo quando manso, calmo
Ela me faz expor o que há de pior
E continuar a provocar esperança
Pela palavra
Seja escrita,
Discreta,
Aborrachada,
Protegida,
Indescrita,
Inscrita.
Sou um caso sério de poeta
Doente de mim
Diagnosticado de mundo
Saudável até o último rascunho
E a derradeira palavra não sairá de minha boca
Mas sim,
De minhas pálpebras cerradas
Como tempestuosas navalhas.
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