Espelhos - Igor Bueno
Espelhos,
Perceber os detalhes de si por outros ângulos.
Pentear o cabelo da alma,
Queimar o deserto adentro
Até que se possa refletir.
Compreender os cactos como a pele
Os espinhos como pelos
O chacal como guardião.
Desconfie do chacal.
Ele é reflexo do reflexo,
Algo te revela. Algo te devora.
Desconfie dos escorpiões
Mas aprenda sobre seu veneno,
Desconfie das imagens
Ao mesmo tempo, confie,
São roupagens a te proteger.
Saber tudo de uma vez sobre si é perigoso,
É adentrar as dunas da miragem,
Secar o caminho,
Quebrar a beleza frente aos espelhos.
Dá muito azar.
Beber de outras fontes
É encontrar água no deserto,
Mudar de paisagem,
Cintilar relações.
O deserto pode ser muito solitário,
O espelho morar no narcisismo,
Vidrar-se.
Admirar o que a luz propicia em tuas passagens,
Se atentar aos detalhes.
Aprender com as relações espelháveis:
Espelha-te,
Expele-te,
Espalhe-se.
Pelos prismas de encantamento:
Como você se vê?
Como vê quem te vê?
Como se vê por quem te vê?
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