Encontro - Igor Bueno
Teu cheiro colou na minha virilha e me fez ventania
Descapitalizada, revolucionária
Um retorno ao habitat do gozo
Onde a troca de moedas se faz de prazeres e arrepios,
Aguadeiro tão terreno que a direção do meu coração
Constela tua chegada dentro de mim
E já posso sentir as vértebras livremente entrelaçadas,
Costela, clavícula, baço, tórax, pelvis, panturrilhas
Sinuosamente traçantes
Feito serpente em seu bote.
Faço-me tua caça e te lanço como caçadora,
No jogo de dentro, brincamos com os desejos que rompem o explicável
Traduzido em gemidos e contemplações simultâneas.
Os tantos corpos e eus que moram nessa experiência vívida
Organicamente se narram sem encerramento
Pois contigo posso ser qualquer bicho
Até mesmo o bicho humano destemperado
Que não segue melodias prévias e passeia pelos microtons,
Timbres desgarrados, errantes, assentados no corpo fera,
No corpo pássaro, cigarra, tronco, folha e poesia,
De cada célula nossa que aos beijos se delicia
E como néctar expirado de teu sexo-transe,
Nutre minha língua de delírios,
Deste cosmos fundante desabrochando em nós,
Pétala por pétala, entre o embriagado silêncio e a folia.
Tu fez brotar em minhas estrelas mais poros,
Neste orgasmo que dança pelas estações
Neste viveiro encarnado dos quereres
Nestas inúmeras espécies que se apaixonam
E fazem do momento um mundo.
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