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Costura Viva Ancestral - Igor Bueno

Costura Viva Ancestral - Igor Bueno


Trânsitos desatinam em vias que assolam os corpos

Assoalhos pélvicos praticamente inóspitos

Dispostos à rígida inércia contrapondo a vasta malemolência

Um corpo só se encontra ao se embriagar de prazer


O céu cairá sobre nossas cabeças

Cheias de crenças

O chão se quebrará sob nossos pés

Cheios de cimento

Onde não se dança, perde-se o revés

O cruzo e patuá frente as doenças

E se marcha ao esquecimento.


Quantos triscando o baile do encarne

Entre um cá e lá, adulterados no açoite à infância

Neste fogo cruzado, imaculado inventário

Queimando cores, raças, generos pela valsa da santa ignorância


Quem sabe Jesus era um pássaro que morreu em Mariana?

Seu último suspiro foi um salto dançante e circense


Jesus era palhaço! Jesus era negro! Jesus era pajé! Seu coração gargalhava! Trocou altas risadas com as pombagira daquele tempo.


Sem papas na língua, sem papo furado:

Tantos alvos neste projeto travado - mercantilizado - despirocado

Que o arco íris vai colar na sua retina

E quando tu olhar pro lado, vai virar viado!


Seguindo o flow no convite, enquanto artista e ouvinte:

Eu só desejo que a munição acabe

E que o funk continue seu reinado

Que armas não sejam imitadas por mãos de crianças ou de um despresidente

Aí é onde o brincar morre no primeiro gatilho.

Quem dera a finitude fosse versada e destilada na embolada e repente.

Mas diariamente é só bala perdida e “de repente”: morre não, meu filho!

A morte só pode ser poética se colhida como Oxum faz com o lírio. Do contrário, eu me retiro.


O que é ser criança nesse Brasil?

Cuidemos. Cuidemos muito. Dancemos!

Nós: povo.

Personificado pelas parabólicas desventuras televisivas

Restritivas

Enquanto a vida é percussiva,

Matéria viva!

Tambor tá chamando!

“Só tambor”* meu amor!


Somos o rato contra o rei, roendo o calcário do velado à carne crua

Somos cultura nessa realidade dura de uma bandeira pura

O que hasteiam senão a fiel incoerência pelo bem da tirania?

E dizem que as dores são só vibrações, frequências e sintonias


Vamos,

Transformar o presente com as potências da luta anterior

E,

Transportar o que se sente com o movimento interior.


Há quem nos queira estragados

Um salve aos bovinos mas não estou fa(r)dado a ser gado

Latifundiário é aquele que late para afundar diários - sempre na coleira capital

Trago a estrada da folia na fumaça do cachimbo cruzado

Cachimbou o Carimbó, salve os Cariri Xocó

Meu samba tem pé de cipó

Não venha me dar um nó

Que de nó eu não tenho dó e nem ando só


Eu sou corda solta virada na sucuri,

Me fundi aos passos rastejantes,

capoeira tem rasteira

Acha ouro na poeira

Do tropeço sou amante.

Só quem é da malandragem sabe esse amor,

Algemas, celas, no embrulho vomitado tal presente-passado;

E nossa mandinga é ferrugem, presente-futuro

Marafunda,ziczira, peste pentecostal, quebranto quebrado!

Tudo se foi pelo que é certo de chegar, aconchegado,

Axé de quem é aliado!


Que eu sou cauda solta virada na macumba,

girando a transversal do tempo

E dou vazão à palavra encantada

Que não é só minha

A solidão distrai o pertencimento,

Mas nós,

Nos pertencemos de tempos antigos por corpos livres nesta contemporaneidade.

Costura viva ancestral,

Trama sagrada corporificada.

Aos povos negros, originários,

Ciganos,caiçaras e tantos outros destinatários

Minha gratidão em luta,

pela poesia que aduba novas sementes.


Na dança da floresta,

Uma velha Samauma,

Nos abraça pela raiz.


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